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Sem hesitar, o Mestre apressou-se a recolher cada um dos elementos listados e atirou-os para o interior de uma taça que surgiu na sua mão. Entoou uma estranha lengalenga e com um gesto da outra mão livre, explodiu com o conteúdo da taça.
A leoa fechou os olhos com o clarão de luz libertado.
- Bebe! – ordenou Chaka-Al.
Ela obedeceu e sentiu aquele estranho líquido espesso e quente a descer-lhe até ao estômago. Uma poderosa energia inundou-a.
- Deixa que o poder desta poção te conduza na luta contra os invasores da Terra. – enquanto falava, a Leoa Vermelha crescia sem parar.
- Isso, cresce! Cresce! – gritava o Mestre para ser ouvido pela gigantesca Leoa que continuava a aumentar de tamanho, ultrapassando as montanhas mais altas da região.
- Agora salta e abandona o planeta para fazeres frente à ameaça extraterrestre.
A Leoa inspirou fundo e deu o maior salto da sua vida. Num instante, passou a atmosfera e mergulhou no vácuo do espaço, polvilhado de estrelas. À sua frente, a frota invasora de naves de guerra espaciais preparava-se para lançar o seu ataque. Perante aquela inesperada aparição monstruosa, os extraterrestres entraram em pânico e dispararam contra a Leoa Vermelha. Mas os tiros não fizeram mais que a enfurecer e ela soltou o seu poderoso rugido. A onda sonora gerada arrasou com toda a frota invasora. A estrutura das naves fragmentou-se em milhões de partículas, consumidas numa magnífica bola de fogo.
Visto da Terra, os seus habitantes acreditaram ter visto um segundo Sol no Céu, tão grande foi a explosão que destruiu por completo a ameaça extraterrestre.
Quando o fogo se extinguiu e os terrestres puderam voltar a olhar para o céu, viram uma estrela cadente que deixava um rasto de luz vermelha. Era a Leoa que inconsciente caía desamparada a grande velocidade, atraída pela gravidade da Terra, rumo à sua morte. A sua dimensão colossal ia diminuindo até ficar reduzida ao tamanho original.
Chaka-Al ergueu os braços e invocou as grandes águias reais. Rápidas a responder às suas ordens, voaram até a Leoa e apanharam-na em pleno voo e levaram-na até ao Mestre, pousando-a gentilmente a seus pés.
O corpo da Leoa fumegava sem vida. Chaka-Al pousou as suas mãos sobre o seu dorso e entoou um cântico. As suas palavras mágicas ecoaram por todos os vales e montanhas e a terra tremeu, o vento rodopiou por entre as árvores da selva e por fim, a Leoa ressuscitou com um grito selvagem.
- Bem-vinda de volta. – cumprimentou com um sorriso o Mestre. – Conseguiste terminar a tua tão difícil missão e como recompensa concedi-te a vida e um desejo. Pede o que quiseres.
- Obrigado, Mestre! - agradeceu profundamente a Leoa renovada. – Tudo o que desejo é regressar a casa e que a floresta destruída volte a renascer e que os seus animais possam voltar a habitá-la.
- É esse o teu desejo?
- Sim, é. – disse determinada.
- Então que se realize. – e com um gesto largo da mão, o Mestre Chaka-La teletransportou a Leoa no espaço até casa, enquanto que à sua volta árvores brotavam do chão e espreguiçavam os seus ramos cobrindo-se de folhas e flores perfumadas. Os animais, atraídos por aquele espetáculo vivo da natureza acorreram para escolher os melhores lugares para morar.
Agradecidos, os animais da floresta nomearam a Leoa, sua rainha, e viveram felizes debaixo do seu reinado justo e bom durante muitos e bons anos. A Leoa Vermelha foi tão amada pelo seu povo que ainda hoje a sua Lenda é contada e recontada e serve de inspiração às futuras gerações.
- Ok, eu ajudo-te, mas ainda não te posso dizer o local exato.
- Mas como vou encontrá-lo se não me dizes onde está?
- Calma! Terás desafios!- Exclamou o Corvo Negro.
- Estou farta de desafios!- Gritou furiosa a Leoa Vermelha. E deu um pontapé numa rocha. De repente, apareceu um pequeno ser do tamanho de um polegar: um Homúnculo. Este ser tinha um corpo extremamente pequeno e umas mãos e pés do tamanho de um ser humano adulto. Tinha dificuldade em mover-se pois arrastava as mãos.
- Olha! Um Homúnculo! – exclamou a Leoa Vermelha.
- Como sabes? - perguntaram ao mesmo tempo o Corvo Negro e o próprio Homúnculo.
- Em tantas aventuras que vivi, ouvi relatos sobre esses seres. São experiências falhadas dos cientistas.
- Eu sou o único sobrevivente. Não me façam mal. – pediu ele.
- Queres vir connosco, numa importante missão?- convidou-o a Leoa Vermelha.
- Sim!- respondeu o Homúnculo, subindo para cima da Leoa Vermelha.
Seguiam os três, quando subitamente, surgiu um disco voador descontrolado, bem na frente deles. De dentro ouviu-se uma voz estranha:
- Bip! Bip! Bip!Bip!Bip!Bip!
- Alguém precisa de ajuda!- exclamou o Homúnculo.
- Como sabes?- perguntou a Leoa Vermelha- Tens algum tradutor incorporado?
- Sim, um dos meus poderes é traduzir todos os idiomas.
Com a sua cauda, a Leoa Vermelha estacou o disco voador. Do seu interior saiu um ser roxo com olhos pretos: um alienígena. Este desatou a falar. Entretanto o Homúnculo traduzia.
- Sou o alien Zony Zubi. Obrigada por me libertares do disco voador. Estava possuído e a controlar-me. Não percebo o que se passou, mas penso que se quiseram livrar de mim. Eu opus-me ao ataque ao Chaka-Al! Fui o único a fazê-lo.
- Chaka-Al?!!!! Conhece-lo?
- Sim. É uma longa história. Há muitos milhares de anos-luz daqui, três planetas andam em guerra: Calin, Belin e Selin. Tudo por causa do talismã que dará a maior força e inteligência do Universo a quem o possuir. Esse talismã nas mãos erradas pode ser o fim de tudo.
- E onde entra o Chaka-Al?
- Chaka-Al foi o guardião escolhido para tomar conta desse talismã, mas roubaram-lho! Entretanto ele enviou robôs para o recuperarem. E conseguiu. O talismã encerra uma profecia: “Quem este amuleto possuir/ Entre o bem e o mal irá decidir.”- e dizendo isto, o alienígena desapareceu num piscar de olhos.
A Leoa Vermelha, o Homúnculo e o Corvo Negro continuaram a viagem. Ao fim do dia, pararam para descansar e dormir. Quando acordaram, estavam num templo branco.
- Eu morri?- perguntou a Leoa Vermelha.
- Não, minha querida Leoa Vermelha! Obrigada por teres percorrido tanto caminho para me encontrares: eu sou o Mestre Chaka-Al!- disse este, de costas voltadas.
- Como sabe o meu nome?
- Eu sei quem és e o que te traz aqui.
- Eu vim entregar o talismã, a pedido de um robot.
- Esse é o talismã da morte.
- Talismã da morte ou da vida. Dependendo de quem o usa. E os alienígenas querem-no para o mal.
Entretanto, Chaka-Al voltou-se. Era jovem, alto, forte, musculoso e surpreendente. Tinha olhos azuis celestiais, cabelo azul comprido como se fosse uma armadura protetora em seu torno, um sinal de fogo na testa, sardas que se iluminavam consoante a sua expressão e uma longa barba negra.
Tinha a fama de ser muito inteligente, corajoso, sensato e simpático.
Para seu espanto, Chaka-Al perguntou à Leoa Vermelha pelas suas ervas da transformação e fez-lhe uma revelação:
- Essas ervas foram uma herança dos teus pais: um dos meus robôs e uma Leoa Vermelha. Para te servirem de proteção. Graças a elas, tu viras águia, quando precisas. Tu herdaste o pelo à prova de bala e a cauda forte do teu pai; o vermelho, a rapidez e o rugido semelhante a um trovão, da tua mãe. Os teus pais andam a proteger o mundo das invasões.
Posto isto e finalmente, a Leoa Vermelha pôde entregar-lhe o talismã, não contendo uma lágrima de alegria. Contudo, para sua surpresa, assim que o fez, o Mestre Chaka-Al quebrou-o:
- Que está a fazer? Agora não serve para nada.
O Mestre ignorou o que a Leoa Vermelha disse e, seguidamente, retirou um papel do interior do talismã, onde estava escrita a seguinte fórmula:
Uma lágrima de felicidade
Uma pena de Corvo Negro
Três cabelos de Homúnculo
Uma lágrima de espanto
- Mas como é que tu sabes da existência do Chaka-Al? – perguntou curioso o Pantera Negra.
- Um robô como tu deu-me este talismã e disse que se eu o entregasse ao Chaka-Al, ele saberia como salvar a terra.- respondeu a Leoa Vermelha confiante.
Sentindo que podia confiar, o Pantera Negra finalmente respondeu à pergunta da Leoa Vermelha:
- O Mestre Chaka-Al tem a responsabilidade de proteger a terra das invasões, por isso ele cria robôs como eu e como o que tu encontraste antes, mas, se um de nós te entregou esse talismã, é melhor seres tu a ir falar com o Chaka-Al.
- Eu não sei onde fica a casa do Chaka-Al. Se me pudesses mostrar o caminho…- pediu a Leoa Vermelha.
- É claro que eu te posso mostrar o caminho, mas não o caminho para a casa do Chaka-Al.- disse o Pantera Negra.
- Então vais mostrar-me o caminho para quê?- perguntou a Leoa Vermelha sem saber o que se passava.
- Vou te mostrar o caminho para o único guardião que sabe onde vive o mestre Chaka-Al: o Corvo Negro.- respondeu com firmeza o Pantera Negra.
E lá foram os dois: a Leoa Vermelha atrás e o Pantera Negra à frente. Um tempo depois, já a metade do vulcão, este disse:
- A partir de agora continuas sozinho, pois eu não tenho permissão para continuar.
- Está bem, obrigada pela ajuda!- respondeu a Leoa Vermelha.
Ela continuou sozinha durante algum tempo até que ouviu um barulho que parecia ser o de um corvo, olhou para cima, viu um completamente negro e perguntou-lhe:
- És tu o guardião que sabe onde vive o Chaka-Al ?
- Sim, sou eu, mas porque é que eu devo confiar em ti? – Disse o Corvo Negro.
- Porque eu tenho este talismã para entregar ao Chaka-Al.
Eram dois adversários formidáveis. De um lado, o poderoso e invencível Pantera Negra. Do outro, a nossa heroína com todos os poderes que já conhecemos. Começou a luta. O Pantera Negra lançou-se ferozmente em frente, tentando esmagar a adversária, segurando-a pelo pescoço. A Leoa Vermelha, surpreendida, deixou-se rolar pelo chão, tentando libertar-se da armadilha mortal que a prendia. Com a sua forte cauda, enrolou o corpo do Pantera Negra, atirando-o contra algumas das casas que se desfizeram em pedaços. Ainda mais furioso, aquele vulto negro levantou-se e gritou:
- Roouou! Agora é que estou zangado! Vais morrer, ser vermelho!
E com os seus olhos disparou um raio violeta que queimou tudo à sua passagem. A Leoa Vermelha, como que por magia, transformou-se novamente em águia, com um rápido golpe de asas desviou-se do raio e, velozmente cravou as suas enormes garras no adversário, arrastando-o para as areias movediças.
O Pantera Negra, desesperado, quanto mais se debatia, mais se afundava. A nossa heroína, já transformada em Leoa Vermelha, aproximou-se das areias movediças, estendeu a cauda e disse:
- Não te debatas mais. Só vais piorar a tua situação. Se me responderes a uma pergunta, eu ajudo-te a livrares-te de uma morte horrível. Aceitas o acordo?
Ofegante do esforço, o Pantera Negra respondeu que sim e deu a sua palavra de honra.
A Leoa Vermelha estendeu um pouco mais a cauda e com um golpe fortíssimo retirou o adversário da armadilha.
Já livre do perigo, o Pantera Negra estendeu a pata à Leoa Vermelha e, retirando a máscara que lhe cobria a cabeça, revelando que era, na verdade, um potentíssimo robô, agradeceu:
- Obrigada pelo teu gesto, por me salvares. És uma adversária incrível! Mereces todo o meu respeito. Podes perguntar o que quiseres...
- Tu que vives aqui, neste universo secreto, sabes quem é o Chaka- - Al?
O Pantera Negra ficou espantado com a pergunta da Leoa Vermelha, como é que ela sabia da existência do Chaka-Al? Era suposto ser o segredo mais bem guardado dos universos desta e das outras mil galáxias.